sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Destruição... "do vale à montanha e do mar à serra"

Faz amanhã oito dias que a Madeira viveu um dos seus piores dias da sua história. Há mais de um século que um temporal com estas dimensões não recaía sobre a ilha. No dia 20 de Fevereiro de 2010, centenas, milhares de pessoas viram destruídos os seus bens, casas, lojas, veículos, etc. Mas o mais grave é a perda de alguém da família, algum amigo, conhecido ou desconhecido. A morte continua a ser uma questão ainda misteriosa, tal como o número de mortos que está sendo contabilizado na sequência desta intempérie. Mas a isso já lá iremos...
Para já, há que lamentar todos os estragos que foram causados pelo mau tempo. Esta imagem, de uma das ruas junto ao Mercado dos Lavradores (impossível descortinar devido às condições que são observáveis), espelha o que aconteceu no Funchal: a água correu pela ribeira a baixo trazendo tudo o que tinha pela frente, e quando o caminho ficou intransitável resolveu subir de piso e, sem pedir licença, invadiu todas as artérias da baixa da "capital" da RAM. Estas ruas ficaram totalmente devastadas, as lojas foram "assaltadas" pelas águas que dispararam o alarme, deixando todos os proprietários desolados, pois viram uma vida ir por água a baixo.
Se este dilúvio chegou em pouco tempo aqui abaixo, isso deve-se à grande velocidade que as águas adquiriram lá em cima nos picos mais altos. É que numa hora choveu mais do que costuma chover num mês de Inverno... o que é assustador. Como é óbvio, as zonas altas dos concelhos foram muito fustigadas, tendo ocorrido várias derrocadas que destruiram estradas, casas, automóveis e outros bens. Santo António, Monte, São Roque (Funchal); Tabua, Serra d'Água, Meia Légua (Ribeira Brava); Curral das Freias (Cª Lobos); foram alguns dos nomes mais pronunciados pela comunicação social, aquando da abordagem às zonas mais irreconhecíveis. Mas houve muitas outras: Gaula, Camacha, Santo da Serra, Ponta do Sol, Caniço, Calheta, Câmara de Lobos, enfim... um pouco por toda a ilha houve destruição. Mas claro, o Funchal e a Ribeira Brava foram os concelhos mais atingidos.
Os trabalhos começaram e ainda continuam, dia e noite, a tentar retirar todos os escombros que se acumularam nos leitos das ribeiras e que entraram pelos parques de estacionamento sem pagar, isto para além das estradas que ficaram com uma nova "imagem" carregada de pedregulhos e outros sedimentos arrastados pelas correntes. A esperança de encontrar mais sobreviventes entre os desaparecidos está a decrescer, pois o tempo vai passando... A pouco e pouco a normalidade vai sendo retomada, na medida do possível, pois há que seguir em frente e há muito trabalho ainda pela frente no que à limpeza e à reconstrução diz respeito.
Hoje, felizmente, já há relatos de escolas que reabriram, estradas que reabriram ao trânsito, pessoas que recomeçaram uma nova fase na recuperação dos seus bens, pessoas que regressaram aos seus empregos após vários dias de recuperação do trauma que causou este catástrofe. Mas hoje, infelizmente, também há relatos de uma nova ameaça. A Madeira encontra-se novamente, uma semana depois, em alerta laranja com aviso de precipitação forte, vento forte e grande agitação marítima. Aquelas zonas altas, aquelas montanhas que outrora eram apreciadas pela sua beleze e que hoje são vistas como uma ameaça à sobrevivência, correm risco de descambar. As pessoas não estão tranquilas, a ameaça é séria... Mas esperemos que nada de grave volte a acontecer, pois o que se passou no passado sábado é já suficiente!!
Questão incontornável dos últimos dias, e que tem sido contornada pelas autoridades, é o número de vítimas mortais. Desde a última terça-feira que o número anda à volta dos 40 mortos. Há quem fale em omissão por parte do Governo Regional da Madeira. Há quem fale que o Dr. Alberto João Jardim está demasiado preocupado com a nova imagem da ilha "lá fora". Mas numa sociedade global como é a que hoje vivemos, nenhuma omissão é de perna longa. Muito pelo contrário, o mundo já fala muito neste catástrofe. As capas dos jornais estrangeiros já dão grande destaque ao sucedido na Madeira. Mas há quem ainda queira tapar o sol com a peneira. Mas enfim... É difícil acreditar que o número de mortos não aumente quando sabemos que diariamente há novos corpos a chegar à morgue. Se calhar "eles" só aprenderam a contar até ao quarenta e dois.
Outro capítulo muito contestado nestes dias é a política de ordenamento do território. A verdade é que não tenho a mínima habilitação para comentar o assunto, mas sei que a pior asneira do governo regional foi ter "esmagado" o leito da Ribeira de São João e ter construido por cima uma rotunda. Esta obra tem pouco mais de 3 ou 4 anos, se calhar, e já está destruída. Agora há que pensar mais e melhor para que os próximos passos nesta reconstrução sejam dados com segurança e com sabedoria...
Mas, não obstante toda esta tragédia, há que realçar que todas as pessoas que ficaram sem casa, todos os desalojados, estão a permanecer provisoriamente no Regime Guarnição nº3 na Nazaré, no Funchal, perto do Estádio dos Barreiros. Também sabe bem quando nos noticiários vemos testemunhos de quem conseguiu sobreviver por um triz, de quem conseguiu salvar de uma ou outra forma alguém (des)conhecido. Sabe mais ainda saber que o país está, mais do que nunca, unido numa onda de solidariedade nunca antes vista. Várias linhas de apoio às Organizações de auxílio às vítimas estão abertas. Várias iniciativas estão sendo tomadas com vista a angariar fundos para doar à Madeira. Inúmeras acções de solidariedade estão sendo levadas até ao objectivo final: reconstruir a Madeira.
E, como português e madeirense que sou, ficou extremamente feliz quando olho para as pessoas e vejo o desejo de contribuir para a recuperação das zonas afectadas. Fico contente ao aperceber-me que há um desejo do tamanho de Júpiter em dar uma nova cara a esta belíssima ilha que ficou irreconhecível de ponta a ponta, que ficou destruída, que deixou de ser a Madeira!

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