terça-feira, 29 de junho de 2010

O curral que abrigou as freiras.

Por entre as numerosas, íngremes e esbeltas montanhas da ilha da Madeira esconde-se um aglomerado populacional cuja história lhe trouxe um nome curioso, bizarro, e o passar do tempo e investimento das autoridades lhe deu um lugar de destaque entre as zonas mais belas e visitadas da Madeira. Falo do Curral das Freiras.



O Curral das Freiras, ou simplesmente Curral, é uma freguesia do concelho de Câmara de Lobos e tem uma população de aproximadamente 3 mil habitantes. Além do seu nome ser estranho, já lá vamos, curioso é o facto de ser uma freguesia do referido município e ter a única via de acesso através do Funchal. Para lá chegarmos, agora (muito recentemente) temos um túnel que liga a zona alta da freguesia de Santo António (Funchal) ao Curral, mas até lá a única via rodoviária de acesso era, também, através da zona alta de Santo António. Uma estrada estreita, muito sinuosa, por muitos considerada perigosa e em mau estado. Já muita gente passou por momentos de aflição quando lá tentavam chegar, em viaturas ligeiras ou mesmo em autocarros, o que fazia aumentar ainda mais a tensão entre os passageiros, principalmente nas curvas mais apertadas.

Quanto à questão do nome, a razão pela qual o Curral das Freiras assim se chama é, segundo vários autores madeirenses, a da atribuição da propriedade dos terrenos desta zona às freiras do Convento de Santa Clara, no Funchal, que data dos anos 90 do século XV. Curral é o nome que designa um esconderijo, o lugar onde se guardam as cabras. Em 1566, um conjunto de corsários franceses, ou piratas se preferirem, invadiu a cidade do Funchal, o que levou as freiras do Convento a se refugiarem naquele lugar por entre as montanhas, onde, seguramente, os piratas não iriam chegar. Assim aconteceu. A partir de então este "buraco", sem qualquer tipo de maldade da minha parte, passou a se chamar de Curral das Freiras.

Só em 1790, mais concretamente no dia 17 de Março, é que o Curral das Freiras adquiriu o estatuto de freguesia. Até então era apenas uma paróquia da freguesia de Santo António. Esta mudança foi autorizada por Carta Régia pela Rainha D. Maria I.

O isolamento do Curral das Freiras em relação à sede de concelho, Cª Lobos, leva a que muitos dos assuntos dos habitantes sejam tratados no Funchal e não em Câmara de Lobos, nomeadamente aquelas papeladas que aborrecem sempre as pessoas anualmente, mensalmente, enfim. Além disto, o abastecimento de água e electricidade é da responsabilidade do município do Funchal. Há sempre um pequeno corpo de bombeiros (B.V.C.Lobos) destacado no Curral das Freiras, pois caso haja alguma emergência, não é tão demorada a chegada da assistência. Imagine-se, se não houvesse, a demora que levaria uma ambulância a ir de C.Lobos ao Curral das Freiras. A nível escolar, apenas há no Curral duas escolas básicas de 1º ciclo, sendo que a partir daí os jovens têm de se deslocar às Escolas de Santo António, ou mesmo no centro do Funchal.

Para estas deslocações foi extremamente fundamental o estabelecimento de uma linha de autocarros entre o centro do Funchal e o Curral das Freiras, que é da responsabilidade da empresa "Horários do Funchal", que além de transportadora urbana, também dispõe de serviços interurbanos. As pessoas têm assim uma solução para os seus problemas, que além disto, vem favorecer a afluência turística ao local.

Com o tempo, a Madeira tem vindo a crescer a olhos vistos no que a turismo diz respeito. Aliás, como é do conhecimento popular, o turismo é a principal fonte de receitas da RAM. E o Curral das Freiras é considerado um dos locais mais procurados pelos turistas, a par de todo o Funchal e da Camacha, isto, claro, para quem não vem fazer só praia...

Este é um vale que oferece a quem o visita uma das melhores paisagens de toda a ilha. Apetece-me dizer que nem dá vontade de ir até lá abaixo, tal é a beleza captada pelas nossas retinas. E porquê? Porque no início da descida para o centro do Curral existe um miradouro, o da Eira do Serrado, cuja vista é idêntica a esta que está mais acima. Estar aqui é um privilégio. Mesmo assim, vale a pena ir até ao centro.

Cá de baixo olhamos para cima e deparamo-nos com um cenário único: estamos completamente rodeados de montanhas. Para visitar há, desde logo, a Igreja matriz, a Igreja de Nossa Senhora do Livramento, e outras capelas. Depois existem várias lojas de artesanato e de lembranças da freguesia e da região que espelham a tradição cultural madeirense. Almoçar ou jantar no Curral é sempre uma excelente opção, pois come-se muito bem nesta zona, onde destacam-se vários pratos tradicionais da Madeira e ainda alguns pratos típicos desta freguesia, onde não faltam o
inhame, a batata doce, a pimpinela e a castanha.

A castanha é, de resto, o fruto principal desta zona, pelo que todos os anos, no início de Novembro, há a festa da castanha que reune milhares de madeirenses e, claro está, de turistas. Ir à festa da castanha é do melhor que há. Quem lá vai é sempre regalado com um bom ambiente, mas mais que isso, é brindado por uma variedade de artigos com base em castanhas. Vendem-se castanhas no seu estado puro, assadas, sopa de castanha, tartes e tortas de castanha, enfim, há uma variedade de produtos quer nas barracas de comes e bebes quer nos bares e restaurantes. Ah, e há sempre a bela sangria, o reconhecido Vinho da Madeira, a ginja (bebida à base de cereja) e, como não podia deixar de ser, a sempre desejada Poncha da Madeira, que partilham com os grupos de folclore e outros grupos musicais a tarefa de "aquecer" o povo que veio ao centro do Curral das Freiras. A nível cultural, há que destacar ainda o
Grupo de Folclore da Casa do Povo do Curral das Freiras, muito conhecido na região.

Para as pessoas mais dispostas a caminhar, sempre podem optar pelos trilhos que ligam vários pontos da ilha ao Curral. Podem percorrer a vereda que dá acesso à freguesia nortenha de Boaventura, num percurso com 16km e que pode demorar até 9horas. Mas também há outros mais curtos. Existe a Levada do Curral até ao Castelejo, com 10km de extensão e que não demora mais de 5 horas a ser percorrido. Para quem está no Jardim da Serra (com vista para o Curral) sempre pode utilizar a vereda da Boca dos Namorados para chegar ao centro do Curral. Pode até ser mais rápido do que ir de carro, pois teríamos que descer até ao Funchal e subir até Santo António e descer até ao Curral. Porque entre Jardim da Serra e o Funchal há a Ribeira dos Socorridos que "obriga" todos a virem ao Funchal.

Com este texto espero ter cativado todos os leitores a um dia visitarem o Curral das Freiras que é, sem dúvida, um lugar explêndido e com muito para dar a quem o visita.

PS: Peço perdão a Nossa Senhora do Livramento por nunca ter ido ao Curral das Freiras...

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Uma surpresa neste mundial

Quem olha de repente nem se apercebe da sua presença, e até há quem já a tenha no lote dos eliminados logo na fase de grupos. A Eslovénia marca presença, pela segunda vez na sua história, num Mundial de Futebol. Em 2002 não foi além da fase de grupos. Os eslovenos tiveram que recorrer ao play-off para chegar à África do Sul, depois de ultrapassar adversários como a República Checa, a Polónia e a Irlanda do Norte - a Eslováquia venceu o grupo.




Para muitos foi uma façanha impensável, mas a verdade é que a Eslovénia conseguiu ultrapassar no play-off a favorita Rússia. A equipa de Arshavin, Zhirkov, Pogrebnyak, Ankyfeev e companhia não foi suficiente para eliminar a equipa de Pecnik, atleta do Nacional da Madeira.

Depois de ter chumbado no teste da primeira mão, em Moscovo, a derrota por 2-1 abriu alguma esperança para a segunda mão, na medida em que um golo daria vantagem aos eslovenos. Foi isso que aconteceu. Em Maribor, um golo de Zlatko Dedic deu a vitória e o acesso à fase de grupos do Mundial da África do Sul.

Com isto, os Zmajceki (alcunha da selecção, que simboliza Dragões, em honra ao dragão que aparece no brazão da capital Ljubliana) conseguiram largar os lugares abaixo dos 40 no ranking da FIFA e catapultou para os primeiros 20, tendo alcançado a melhor classificação de sempre no mês de Abril atingindo o 23º lugar. Hoje está no 25º posto.

Agora a tarefa é mais complicada. No grupo C do Mundial, a Eslovénia tem pela frente a Inglaterra, os Estados Unidos e a Argélia. Não é fácil chegar ao 2º posto, pois à partida a equipa de Fabio Capello irá vencer o grupo, mas não é impossível. A Eslovénia, pode aproveitar o embate histórico entre ingleses e norte-americanos para, se vencer à Argélia, colocar pressão nestes que são os seus principais adversários e ganhar vantagem que é importante num mundial.

A Eslovénia começa então esta caminhada frente à Argélia, em Polokwane, depois joga com os E.U.A. no Ellis Park de Joanesburgo e, em Port Elizabeth, termina a fase de grupos frente à Inglaterra.

Não é, nem de perto nem de longe, favorita à passagem aos oitavos de final, mas num Mundial qualquer equipa deve ser levada em linha de conta, ainda para mais sabendo que deixou fora do certame a Rússia.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Haverá sucesso africano?



É já de hoje a oito que África do Sul e México darão o pontapé de saída deste Mundial de Futebol, a realizar no extremo sul do continente africano. Jornalistas portugueses que já lá chegaram descrevem um país pronto, mas ainda com algumas lacunas em reparo, como o caso que algumas vias rodoviárias que ainda se encontram em expansão e manutenção. Mas mesmo assim, não há dúvidas que este mundial será um sucesso.

No que a selecções diz respeito, só uma entre as 32 terá o dito sucesso que todas ambicionam, quando levantar o caneco no Soccer City de Joanesburgo, a 11 de Julho.

Entre as selecções apuradas encontramos 6 do continente africano: Camarões, Nigéria, Costa do Marfim, Gana, Argélia e, claro, a anfitriã África do Sul. Os povos destes países, mas sobretudo todo o povo africano deposita esperanças nestas selecções. Num ano em que, pela primeira vez um Mundial é disputado em solo africano, também todos os africanos esperam que seja o primeiro mundial a ser ganho por um país africano.

Aliás, nunca uma equipa africana chegou a uma final de um campeonato do mundo. A etapa mais avançada a que uma equipa africana conseguiu chegar foi os quartos de final, e apenas por duas vezes. Os Camarões chegaram a esta fase no Mundial de 1990, sendo eliminados pela Inglaterra (3-2). Já no Mundial da Coreia/Japão, em 2002, foi o Senegal a chegar aos quartos. A equipa na altura treinada pelo francês Bruno Metsu acabou por ser eliminada pela Turquia (0-1), fruto do já inexistente "golo d'ouro".

No Mundial de 2006, o Gana foi a única selecção africana a transitar para os oitavos de final. Nesta fase, o Brasil levou a melhor (3-0). Togo, Angola, Tunísia e Costa do Marfim não foram capazes de chegar aos 16 melhores.

Depois de, no Mundial da Alemanha, a Costa do Marfim ter estado no chamado "grupo da morte", com a Argentina, a Holanda e a Sérvia-Montenegro, os elefantes voltam a estar no "grupo da morte". Agora os companheiros do grupo G são o Brasil, a Coreia do Norte e Portugal. Se os costa-marfinenses tivessem sido sorteados num outro grupo que não este, seriam certamente favoritos à passagem à fase seguinte. Mas num grupo onde há 3 equipas com aspirações a tal e uma outra que pode, e tentará com certeza, baralhar as contas do grupo, a Costa do Marfim vê-se novamente numa situação difícil. Mas mesmo assim, continua a ser a principal esperança africana neste Mundial. A Costa do Marfim é a selecção mais apetrechada de talentos em todo o continente africano. Apenas refiro Drogba e Kalou (Chelsea), Eboué (Arsenal), Kolo Touré (Man.City), Yaya Touré (Barcelona), Zokora (Sevilha) e Koné (O.Marselha). 6 jogadores de altíssima competição, com grande experiência. E melhor que isto é ter ao comando um devorador, uma raposa do futebol mundial: Sven-Goran Eriksson! Sem dúvida que podem chegar bem longe neste mundial, mas esperemos que para tal Portugal não fique pelo caminho...

A selecção dos Camarões é outra esperança africana. Também está num grupo difícil, com a Holanda - dispensa apresentações, a Dinamarca, que fez a vida negra a Portugal no apuramento e vai voltar a fazê-lo de certeza no caminho para o Euro-2012, e o Japão, que há bem poucos dias atrás deu a cara, e muito bem, frente a uma Inglaterra que só conseguiu o triunfo no último quarto de hora com dois autogolos nipónicos. De qualquer modo, podemos teoricamente juntar os Camarões à Dinamarca no lote de segundos favoritos à passagem neste grupo E. A Holanda é 100% favorita.

Os africanos têm em Samuel Eto'o a principal figura e a principal seta à baliza adversária. Cá atrás, o seleccionador francês Paul Le Guen conta com jogadores como Alexandre Song (Arsenal) e Jean Makoun (Lyon). O meio-campo desta equipa já recebeu grandes elogios pela qualidade de posse de bola. A grande fragilidade é a defesa, e o jogo com Portugal na Covilhã mostrou isso mesmo, ainda que os camaroneses tenham jogado com menos um durante cerca de uma hora. A selecção dos Camarões inicia a sua caminha frente ao Japão, em Bloemfontein, depois jogam em Pretoria frente à Dinamarca (jogo que pode definir muito deste grupo E) e termina a fase de grupos frente à "laranja mecânica", na Cidade do Cabo.

A selecção africana que era uma esperança mas agora já nem cai em ilusões é o Gana. É que a principal figura, Michael Essien, não vai ao Mundial, devido a uma lesão. Ainda assim, num grupo onde está a Alemanha, a Sérvia e a Austrália, o Gana pode surpreender. No futebol tudo é possível. Sem Essien, a figura passa a ser Muntari do Inter de Milão. Mas o melhor é esperar para ver.

A Nigéria regressa ao Mundial depois a ausência no de 2006. Depois de ter alcançado os oitavos de final nos mundiais de 1994 e 98, os nigerianos procuram uma chegada aos quartos de final. Mas primeiro há que ultrapassar no grupo B adversários de nome como a Argentina, a Grécia e a Coreia do Sul. A selecção alvi-celeste é a grande favorita, mas depois dela tanto os africanos, como os gregos e os coreanos têm hipóteses de passar à etapa seguinte. É mais um grupo equilibrado onde qualquer prognóstico pode ser precipitado.

Obi-Mikel do Chelsea é a grande estrela desta selecção que, como é hábito, virá vestida de verde de cima a baixo. Além de Mikel não devemos esquecer jogadores como Obafemi Martins do Wolfsburgo e Yakubu do Everton. É uma equipa que sem qualquer estrela nas posições mais recuadas, apresenta uma defesa consistente, o que no mundial pode valer muito nas contas do apuramento. A Nigéria defronta primeiro a Argentina no Ellis Park de Joanesburgo, depois joga com a Grécia em Bloemfontein e termina a fase de grupos frente aos sul-coreanos em Durban. É uma forte esperança africana, ora não estivesse vestida de verde.

A Argélia teve de recorrer a um jogo de desempate no Sudão para eliminar o Egipto e garantir a presença no Mundial. No grupo C, com a super-favorita Inglaterra e ainda com os Estados Unidos da América e a Eslovénia, os argelinos não partem nem como segundos favoritos. Mas mesmo assim, há que recordar a boa prestação desta selecção no CAN 2010, que ficou no 4º lugar. Os jogos com o Egipto para o apuramento ao Mundial foram muito bons. A Argélia conta com jogadores como Karim Ziani do Wolfsburgo, mas também os conhecidos Yebda, que passou pelo Benfica, e ainda Halliche do Nacional da Madeira. Não tem assim grandes nomes, mas tem jogadores que jogam em ligas europeias bastante competitivas, na Escócia, na França, na Alemanha, na Inglaterra, na Espanha, Itália e Grécia. Repito que não é favorita ao 2º lugar, mas pode cair em graça sem ser engraçada.

Finalmente temos a África do Sul, o país organizador. Carlos Alberto Parreira não tem estrelas, mas o fortíssimo apoio do público promete ser decisivo. As únicas participações dos sul-africanos em Mundiais foram em 1998 e 2002, não passando da fase de grupos. Frente à França, ao México e Uruguai, a África do Sul, se fosse num mundial noutro país qualquer, seria o principal candidato a ficar pelo caminho. Mas a história diz-nos que o factor casa é decisivo. Portanto, teremos de esperar para ver o que esta equipa consegue fazer. Esperemos é que não haja qualquer tipo de semelhança com o que ocorreu no Mundial de 2002 em que a Coreia do Sul foi autenticamente "levada ao colo" até às meias-finais. Mas também esperemos que a França não seja beneficiada como tem vindo a ser nestes últimos meses...

Perante esta análise, não há nenhuma equipa africana com sucesso garantido neste Mundial. Mas que há muita qualidade e possibilidades de passagem às fases seguintes, lá isso há.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Euforia entre saltos e piões. (a minha primeira reportagem)

Cerca de 45 mil pessoas na Avenida dos Aliados, no Porto, para assistir ao terceiro Road Show em todo o mundo. Em 2007 foi em Varsóvia e no ano passado em Buenos Aires. O evento marca o tão desejado regresso dos ralis ao Norte do país e antecipa o Vodafone Rally de Portugal, que começa no dia 27.

Grandes saltos e muitos piões estão reservados para esta tarde domingo bem quente, com temperatura a rondar os 30ºC, e com os espectadores protegidos do escaldante Sol por bonés distribuídos de forma gratuita, encarnados e com o símbolo da rede de comunicações que patrocina o Rali de Portugal. De um extremo ao outro, nas margens e no centro da Avenida, por todo o lado estão pessoas à espera que os bólides acelerem pelo troço de 950 metros desenhado por Armindo Araújo.

O campeão mundial de produção em título diz que “o circuito até é bastante interessante”. Armindo Araújo começa por prometer aos portugueses uma vitória no grupo N, no Vodafone Rally de Portugal. O piloto de Santo Tirso agradece aos colegas por estarem presentes neste Porto Road Show, que proporcionarão um “grande espectáculo”.

Sem dúvida que as expectativas são as maiores, pois entre os 13 pilotos presentes estão nomes como Sébastien Loëb, Daniel Sordo, Kimi Raikkonen, Mikko Hirvonen, Jari-Matti Latvala, além dos portugueses Bernardo Sousa, Armindo Araújo e Vítor Pascoal. Foram ainda convidados nomes não tão sonantes, como Nick Georgiou, Peter Horsey, Hayden Paddon, Alex Raschi e Ott Tänak, todos membros da equipa Pirelli Star Driver, da Mitsubishi.

E não é o simulador WRC a captar a maior parte da atenção do público que correu à baixa. Para as 14h30 está marcada uma sessão de autógrafos com todos os pilotos disponíveis para rubricar os cartazes (grandes, médios e pequenos) que estão a ser distribuídos pelas assistentes de organização. É um autêntico gáudio quando o speaker de serviço anuncia o início da sessão. De uma ponta à outra da mesa estão os pilotos rodeados de repórteres de imagem/fotográficos. Apesar não haver excessos, é impossível a organização evitar alguma confusão à entrada para o espaço.

A alegria de ter a assinatura de alguns dos ídolos do desporto automóvel é imensa. David é testemunha disso: “estou muito feliz, já tenho o autógrafo do Armindo, do Pascoal, e de mais alguns”. Apesar da euforia, alguns permanecem um pouco tristes por não chegar a tempo de conseguir uma rubrica, uma foto, ou simplesmente um olhar daquele que seguramente é o mais popular entre todos: o francês Sébastien Loëb. Adelino Aguiar até trouxe um Citroën C4 em miniatura para o hexa-campeão do mundo de WRC assinar, o que acabou por não acontecer. Apesar da desilusão, Adelino aposta na vitória do francês para o Rali de Portugal, apesar de preferir a vitória de “um português, o Armindo”. Este adepto do automobilismo acrescenta o desejo de voltar a ver o Rali de Portugal no Norte do país.

Acaba a sessão com muitas pessoas ainda à espera do autógrafo. É que às 15h30 tem início a fase de adaptação ao traçado. Antes disso, Bernardo Sousa mostra a sua satisfação pelo desenho da etapa: “é um traçado magnífico, muito bem conseguido. Estão reunidas todas as condições para que seja um grande espectáculo”, diz o piloto madeirense.

E é nesta pausa antes do aquecimento que os pilotos dialogam com os jornalistas. Mikko Hirvonen fala das diferenças existentes entre usar um carro de estrada, neste caso, e usar um carro de competição, o que está para acontecer na próxima semana. O piloto finlandês da Ford diz que “enquanto é necessário haver maior cuidado com suspensão e diferenciais no Rali de Portugal por causa dos saltos e das rochas escondidas, neste tipo de provas não é preciso tanta precaução”. Hirvonen acha o carro de estrada mais “confortável” e o carro de competição mais “eficaz”. O compatriota e companheiro de equipa de Hirvonen, Jari-Matti Latvala, destaca as dificuldades sempre presentes no Rali de Portugal e elogia o trabalho de Araújo na elaboração do traçado, que o finlandês considera “interessante.”

Chegada a hora do início da fase de preparação, os milhares de amantes do desporto automóvel deliram quando vêem a bandeira portuguesa ser agitada por Mikko Hirvonen durante a sua passagem pelo circuito. O furor repete-se aquando da entrada de Armindo Araújo e Bernardo Sousa na pista, eles que têm a bandeira nacional colocada na parte traseira do automóvel, com o acréscimo de Bernardo Sousa não esquecer as suas origens e querer mostrar também a bandeira da Madeira.

Importa referir que cada passagem pelo circuito dos Aliados dura cerca de um minuto. Daí que tanto a Ford como a Citroën tenham trazido apenas um veículo para Hirvonen e Lattvala, e para Loëb, Sordo e Raikkonen.

Com o decorrer da primeira sessão de treinos, acentua-se ainda mais o gosto pelo traçado idealizado por Armindo Araújo. O jornalista da RTP e habitual elemento das corridas em Portugal, João Fernando Ramos, afirma que esta etapa é “fantástica”. E vai mais além quando defende a vinda do Rali de Portugal para o Norte: “É aqui no norte que há mais avisionados, mas o turismo e o dinheiro obriga a que o Rali ainda seja no Algarve”.

Quem também simpatiza com esta prova é o hexa-campeão mundial Sébastien Loëb. O francês está protegido por um guarda-sol, numa das esplanadas junto ao parque, com a companhia de outros elementos da Citroën onde a boa disposição é notória. Ele diz ter gostado do momento passado na pista e que “isto é mais para o público, mas nós divertimo-nos muito”. O Rali de Portugal é um poço de “boas recordações” para o gaulês, ele que elogia a prova e o país por haver sempre um “bom ambiente”.

Ainda antes do início de mais uma sessão de treinos, um aglomerado de pessoas corre para a escada de acesso à bancada VIP situada entre os espaços Paddock, semelhante ao parque de assistências de uma prova de Rali normal. É que uma senhora tinha desmaiado na bancada. A confusão é tanta que a mulher teve de ser deitada no chão, à espera do INEM que, mesmo situado a escassos metros de distância, tardava em chegar por causa do camião da Ford que bloqueava o acesso da maca ao local. Um automóvel acabou por ser afastado e a mulher é levada pelo INEM. A organização do Road Show tratou de assegurar todas as condições, com várias unidades do INEM presentes no local, para além das cerca de 120 unidades de segurança pública destacados para o evento, segundo elemento oficial.

Na segunda sessão de treinos, merece destaque Armindo Araújo, para o qual é dirigido um grande aplauso, e ainda Bernardo Sousa que esbarrou com a parte dianteira do carro numa das barreiras de segurança, danificando o pára-choques do seu Ford Fiesta S2000. A situação de pronto veio a ser resolvida. Sem dar espectáculo, mas também merecedor de uma grande ovação, é uma das ambulâncias do INEM obrigada a passar pela pista, única hipótese. Momento inesperado nesta tarde. Outro episódio curioso é a constante corrida dos agentes policiais, mas à busca de um autógrafo.

Meia dúzia de automóveis clássicos pelos Aliados é a surpresa da tarde. Os convidados de honra são os pilotos presentes no espectáculo que, sentados na traseira dos veículos, dão a volta ao circuito, possibilitando a captura de melhores fotos, a troca de olhares, sorrisos e acenos com o público, pois o desfile decorre a uma velocidade a que os automobilistas não estão habituados. Tanto que Armindo Araújo terá tido o tempo suficiente para ler o cartaz “Armindo e Miguel, o Porto orgulha-se de vocês”. Miguel Ramalho é o co-piloto de Araújo.

Já para lá das cinco da tarde começa a verdadeira prova de Rali que, não obstante ser só de exibição, sempre tem um favorito ao melhor tempo, como é o caso de Loëb. Ainda assim, é Dani Sordo a receber mais aplausos, pois é o que mais espectáculo dá nos saltos e nas zonas de piões. Consegue um registo de 52.9 segundos. Mais uma vez os portugueses são os mais acarinhados pelo público.

A prova acaba e fica à vista que estas gentes querem mais, muito mais. Não só a nível de iniciativas a esta semelhantes, mas também no que a autógrafos e fotografias diz respeito. Sordo assegurou o melhor tempo. Quer Loëb, quer Raikkonen procuraram superar a marca do espanhol, mas o C4 da Citroën ficou com alguns problemas electrónicos impeditivos de uma prestação ao mais alto nível.

Após a recolha de todas as equipas aos seus espaços de assistência, é a corrida total dos espectadores a um autógrafo. Quem consegue mesmo uma foto com todos os pilotos foi o Presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Rio, e Carlos Barbosa, o presidente da ACP, Automóvel Club de Portugal, entidades organizadoras da prova.
Os pilotos do mundial WRC rapidamente abandonam o recinto, com Loëb, Sordo, Hirvonen e Latvala ainda a distribuírem algumas assinaturas. Apenas Raikkonen passou pelos espectadores sem olhar, sorrir ou acenar.

Ainda tempo para declarações dos pilotos portugueses. A começar pela equipa de Vítor Pascoal que faz um balanço “positivo”. “É uma iniciativa de louvar da ACP e da Câmara do Porto e espero que repitam porque todo o público gostou e isto beneficia a cidade do Porto”, afirma o piloto de Amarante. Bernardo Sousa também partilha da mesma opinião que o companheiro e, questionado sobre qual a mão que lhe dói mais, respondeu: “a esquerda, por dar tantos autógrafos”.

Ainda pela zona estão o Presidente da ACP e o Autarca do Porto. Carlos Barbosa fala numa “coisa maior para o ano que vem”. É uma possibilidade a ser ponderada, pois “vale a pena, mas não podemos fugir muito deste género”, assegura Carlos Barbosa, que sugere a realização do evento à noite. Rui Rio afigura-se mais satisfeito pela promoção da cidade: “toda esta prova foi vista em todo o lado”. Tal como Barbosa, Rui Rio deseja um novo Road Show em 2011. “Provavelmente vai repetir-se, foi um êxito”, declara o autarca da Invicta com um sorriso rasgado de orelha a orelha.

Por entre as árvores dos Aliados ainda está Armindo Araújo. O piloto felicita a organização e sobre 2011 diz com convicção: “Gostaram? Então vamos repetir.”

Ficam agora todos os apaixonados pelo automobilismo à espera que 2011 chegue rápido e com um novo Road Show, enquanto os funcionários da Câmara passam o resto do dia a recolher todo o lixo espalhado pela Avenida, hoje transformada numa espécie de autódromo.